sexta-feira, 1 de abril de 2011

VIPs

"eu quero ser piloto" (mas enquanto isso, pode ir sendo outras coisas...)
 Sabe aqueles filmes que você já vai com uma impressão de que não vai ser “aquiiilo”, mas acaba literalmente pagando pra ver por conta da ficha técnica? Pois então, com VIPs não foi nada diferente. Isto porque a história em si não me atraiu, eu não era conhecedora do caso original e só de ouvir me trouxe a lembrança imediata de outros filmes. Ainda assim achei que valeria a pena por conta do Wagner Moura e pelo fato do roteiro e produção estarem nas mãos do Bráulio Mantovani (Cidade de Deus/Tropa de elite I e II) e Fernando Meirelles (Cidade de Deus / O Jardineiro Fiel / Ensaio sobre a Cegueira) respectivamente.

O esforço em ser receptiva ao filme, mesmo sem interesse pela temática, acabou não sendo tortuoso. Isto porque VIPs é um filme com algumas saídas cômicas e narrativa simples que encantam o espectador. Seja por ver Wagner Moura imerso em tantas situações inusitadas, como a cena única em que imita Renato Russo (bateu até saudade), mas principalmente por presenciar o cinema nacional experimentando outros ares, saindo de caminhos marcados e fórmulas que estamos acostumados a ver, desde o sucesso de alguns filmes produto do cinema de retomada, e permitindo-se ser um filme misto, fazendo uso de elementos pertinentes aos gêneros de aventura, comédia e drama. 


Mesmo com este trunfo, sexto sentido feminino não é de falhar, por isto ao findar o filme ficou o sentimento de que é essencialmente a atuação do Wagner Moura quem carrega a trama, através de sua corrida frenética para absorver as mudanças do personagem (muito além de alterações aparentes como os cortes de cabelo) e expor as sensações mais exacerbadas de sua carreira, exprimindo pelo olhar, fala e posturas as novas faces adquiridas a cada ponto de virada da trama pelo seu personagem. No entanto sua atuação magnífica, como de costume, não é o suficiente para tornar VIPs um bom filme.

Dentro da perspectiva da história do homem que suplantava limites morais e sobrepunha a sua existência com a de outros desde muito jovem, afirmando outras personalidades à medida que novos nomes lhe sopravam ao acaso, Marcelo Nascimento tornou-se famoso pela sua ousadia e coragem em ser quem quisesse. Iniciando sua saga como sobrinho do dono de uma empresa rodoviária para conseguir uma viagem de graça e posteriormente tendo seu ápice ao internalizar a figura de uma pessoa pública, o herdeiro de uma grande companhia aérea, durante o carnaval em Recife. No filme a solução usada pelo diretor para manter o filme leve e alheio a julgamentos de conduta foi atribuir ao personagem esquizofrenia e um distúrbio de personalidade, justificando assim os atos e a trajetória incomum de Marcelo Nascimento.

A grande falta em VIPs se constitui no sentimento residual de que “algo mais” poderia ser feito, dito ou mostrado. Pela própria história que serviu de plano de fundo, baseada no livro “Vips: Histórias reais de um mentiroso”, outras tramas poderiam ter sido construídas formando uma rede mais interessante e não limitada a algumas cenas engraçadas e equilibradas pelo posto de epicentro assumido por Wagner, que por ser excelente em qualquer trabalho, encontrou neste papel uma fonte rica de aproveitamento para exibir seus talentos de ator. Uma maneira interessante de nos mostrar que o Capitão Nascimento tem seu lugar eterno e de destaque, no entanto outras portas precisam ser abertas para que corra o vento das novidades. Ainda assim fica evidente que invariavelmente um filme não se sustenta por uma atuação.

Outra falha foi não ter elevado a história a um patamar diferenciado, uma vez que já não havia o ineditismo temático. É inevitável e automático estabelecer semelhanças entre VIPs e dois outros filmes: “O Talentoso Ripley”, longa sobre um jovem que usurpa a vida de outro para usufruir de benefícios e mordomias e principalmente “Prenda-me se for capaz”, que conta a história do famoso falsificador Frank Abgnale Jr. Neste último a tensão necessária para condensar a boa trama se dá pelo contraponto entre Di Caprio e Hanks, levando ao espectador a torcer desde o princípio pelo anti-herói, fascinados com seu traquejo e perspicácia. Em VIPs esta tensão é propriamente exclusiva de Marcelo, refletida por sua ânsia primeiro por pilotar, depois por ser “alguém” tendo apenas o contraponto já nas cenas finais, com o início da perseguição policial. Não somos convidados a participar da sua trajetória, apenas acompanhamos recortes de fatos vivenciados rasgados pelo corte final em aberto.

De qualquer maneira vale o ingresso ver Wagner Moura à vontade e livre para mostrar que pode atuar com o que quiser. Mesmo que não seja uma história excepcional, suas faces sempre terão êxito pela entrega e verdade que lhe são próprias e sazonalmente emprestadas aos seus personagens. De alguma maneira o subtítulo do filme “quem você quer que ele seja” associado à imagem de “Marcelo” (um mosaico de suas faces ao longo do filme) cabe como uma luva a Wagner Moura, mais uma dica de que (fato) o filme é fundamentalmente a sua interpretação, mais uma batalha vencida pelo ator multifacetado e invariavelmente brilhante, fazendo o que ele sabe de melhor, sendo quem ele quiser!

Trailer:

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