quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Vicky Cristina Barcelona


 “Por que tanto perder-se/Tanto buscar-se/Sem encontrar-se”

Lá vou eu outra vez praticar o exercício do "pagar para ver", literalmente. Quem conhece um pouco meus gostos cinematográficos sabe da resistência que tenho ao Woody Allen, mas não deixo de ver um filme quando tenho vontade por conta desses filtros, o que as vezes me rende ótimas surpresas; foi assim com A rosa púrpura do cairo e Celebridades e ainda com Manhattan, mas definitivamente Allen não me agrada por inteiro.

No entando, Vicky Cristina Barcelona, talvez pela temática, talvez pelos atores, mas com certeza pela construção dos personagens, me encantou. A escolha pela utilização da irritante narrativa quase me fez desitir do filme. Detesto filmes com narrativa, me sinto substimanda como se o diretor achasse que não somos capazes de decodificar os sinais emitidos durante a trama. Por outro lado instantaneamente me faz pensar na incapacidade ou falta de motivação de deixar subentendido os detalhes que aflorariam naturalmente no desenrolar da trama. Ok, ok...existe ainda a simples condição da "escolha", mas para mim sempre será a pior delas.

Utilizando-se do mesmo diretor de fotografia de Mar Adentro (fabuloso) e Fale com Ela (Amo!) e Os Outros (já viu né...só filme maaara!) Javier Aguirresarobe, Woody Allen nos transporta a uma Barcelona ídílica e um Oviedo dos sonhos possíveis, onde acompanhamos a história das férias de duas amigas Vicky (Rebeca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson), antagônicas quanto as certezas, serem invadidas pelo artista plástico Juan Antônio (Jarvier Bardem) ainda preso a um relacionamento conflituoso com sua tempestuosa ex-esposa. Junte esses ingredientes a uma trilha elíptica que dá ritmo e contorno a trama (A música tema Barcelona gruda igual a chiclete) e o prato final é uma história leve e com momentos de um humor inusutado que trata sobre as muitas formas do Amor.

Depois de ser forçosa e diretamente apresentados aos personagens principais (ela de novo, a voz em off da narrativa!) passeamos pelo filme como Deuses apenas espectando os acontecimentos, com uma leve e intermitente sensação de que "já vi isso antes", porém com o sabor da dúvida e ansiosos pela virada do vento. E eis que vem: Penelope Cruz adentra a trama de uma maneira radiante e magnífica. Iluminando com ar de novas possibilidades a história já marcada. Atrevo-me a dizer afinal que sua personagem Maria Helena, que existe desde sempre, mesmo antes de personificá-la, traz à película de Allen o frescor e a vitalidade não presentes verdadeiramente nos outros personagens. A imediata esteriotipação da loucura revela pouco a pouco uma sanidade ímpar. A carta curinga de Allen se revela para mim e fatalmente faz ele vencer o jogo.

Apesar de sair do cinema aliviada pela experiência, com boas reflexões, não passaram cinco minutos para voltar a estaca zero. Bastou um in sight cortante : "Imagine uma história, um cenário, trilha e atores desses na mão do Almodóvar?"....aí meu amigo a pontuação de Allen despenca novamente...e então, a maré entra em ressaca outra vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário