terça-feira, 14 de setembro de 2010

Nosso Lar

O bom filho...
Desde a infância o sentido de casa, morada, lar sempre foi claro em minha vida. Mesmo iniciando a compreensão do mundo e das manifestações físicas e metafísicas da nossa existência, mesmo quando algumas palavras e sentimentos não faziam sentido, ainda cedo já havia a certeza latente de que Lar é o lugar acolhedor, aquecido, protetor e para o qual eu sempre, em qualquer circunstância seria bem recebida e retornaria sempre que desejasse. Hoje, com as idas e vindas, fruto das escolhas diárias, permanece este sentido e sei que lá, no meu Lar, resgato todas essas emoções que me completam, confortam e revigoram. Se este sentimento meu, for seu também, acredito que possivelmente ele foi ou será ampliado após uma sessão do filme Nosso Lar.

O filme, baseado na obra homônima de Chico Xavier pelo espírito de André Luiz, nos conta as experiências iniciais do próprio André ao desencarnar e passar a integrar o plano espiritual. Ainda em terra como médico, casado e pai de três filhos, ele morre após negligenciar sua saúde composta de uma rotina de excessos, indo direto para a escuridão e sofrimento do umbral (purgatório). No entanto, essa fase é apenas um capítulo da nova vida de André Luiz, sendo sua elevação espiritual construída diariamente após sentir-se arrependido e ser resgatado por espíritos de luz, sendo então levado para colônia espiritual Nosso Lar. Os questionamentos e relutâncias iniciais, a obsessão em ver sua família que ficou no plano físico, o caráter austero logo vão dando espaço ao aprendizado, certezas e novas virtudes.


A beleza deste filme, e isso para mim é o coração inclusive deste texto, é que ele não tem a pretensão, como em outras adaptações, de ser uma cópia do livro, até porque o conteúdo de uma obra desta magnitude não caberia em 120 minutos de projeção. Percebo que o mesmo se propõe a provocar reflexões individuais, ao invés de limitar-se a fornecer apenas explicações espíritas sobre os fenômenos. O sentimento presente é que por detrás de cada fala, cada cena, caberia outro filme para explicar, se este fosse o sentido, no entanto, o que fica é um leque encolhido, cabendo a nós ampliá-lo, seja por mera curiosidade, ou por real interesse. Além de divulgar informações sobre o ambiente espiritual, Nosso Lar tem um êxito muito maior que é despertar em cada espectador de uma forma diferente, um sentimento único e especial.

A forma dessa comunicação se dá quando em vários momentos a parte aparente deste leque se sobressai. Temas como vida após a “morte”, reencarnação, planejamento de outras vidas, esferas espirituais, espíritos de luz, umbral, entre outros citados em partes específicas do filme, são pontas que, se expandidas, revelarão um mundo riquíssimo de conhecimento e ampliação do olhar bem como elevação espiritual. O filme é o despertar inclusive para procurar no livro uma compreensão maior dos assuntos tratados e, como uma chama acessa internamente, invariavelmente a alma sentirá fome de alimentar-se de outras fontes, conduzindo assim as pessoas a mergulharem neste universo tão bonito que tem palavras como amor, respeito, compaixão, disciplina, merecimento e união como ingredientes fundamentais. 


Estas palavras podem ser observadas ao longo do filme de uma maneira sutil. Amor das pessoas uma pelas outras, de André por sua família e vice versa, dele com os irmãos de Nosso Lar, da forma como os novos habitantes são recebidos na sua chegada. Respeito por cada ser vivente, todas as formas de manifestação de vida e pela própria vida. Compaixão pelos que padecem e sofrem, servindo-os e conduzindo-os a cura. Disciplina para saber o tempo certo das coisas se revelarem e acontecerem, ao tempo que cada um se torna preparado para receber cada ensinamento, advindo de uma vivência, Merecimento fruto da prática do bem para si e para o próximo e União pelo sentido de comum, de partilha, sentimento que perpassa pelo Amor.

Outro aspecto interessante é quanto a apresentação da alternância do sentido das palavras vida e morte. Somos acostumados a ter a ideia de vida, nossa existência na terra, e morte, nossa partida, o deixar de existir. No filme, esse sentido revela-se condicionado a perspectiva real que é o filtro da perda. Sentimos essa alteração ao vivenciarmos o sofrimento de Lísias (Fernando Alves Pinto) da colônia ao despedir-se de sua mãe Laura (Ana Rosa) que irá reencarnar brevemente. O que é vida para nós, é o deixar de existir em Nosso lar, e o que é morte para nós é a chegada de alguém querido por lá...um ciclo infindável de ir e vir, chegar e partir, “ dois lados da mesma viagem” que é a vida. A única coisa que não finda é o espírito, que participa destes ciclos buscando sua evolução e por outras vezes, provocando a evolução de outros a partir de suas experiências terrenas.

Nosso Lar soube ainda utilizar bem os ricos efeitos visuais (investimento de R$ 20 milhões, R$ 5 milhões a mais do que a cinebiografia do Lula, até então a mais cara produção nacional) inserindo de maneira natural os atores à construção gráfica principalmente nos ambientes internos. A figuração da colônia externamente, mesmo com o tom predominantemente futurista, ao contrario de muitos, não me incomodou. Destaque para envolvente e moderada trilha, do mesmo compositor do filme As Horas, o músico Oscar Philip Glass, elevando momentos importantes da trama, como a chegada dos espíritos desencarnados de todas as religiões na segunda grande guerra. 


Quanto aos atores, confesso que achei a mão do diretor (Wagner de Assis) pouco firme na condução principalmente dos que retratam a família de André em terra, interpretações em alguns momentos frias e mecânicas, salvo a maravilhosa Chica Xavier (Ismália) no papel de ama da casa que em apenas um olhar e posteriormente numa frase, rouba toda a cena. A todo tempo esperei de Renato Prieto (André Luiz) uma ascensão mais perceptível, de acordo com a elevação do personagem, o que não aconteceu, resultando numa construção estática de uma figura tão intensa. No entanto, surpreendeu-me a apresentação do Fernando Alves Pinto (Lísias) e o já comprovado talento de Othon Bastos (Governador Anacleto), Werner Schünemann (Emmanuel) e Paulo Goullard (Genésio), que mesmo com poucas aparições foram notas exatas dentro desta harmônica produção cinematográfica. O tom didático principalmente no início do filme é adequado uma vez que são lições e ensinamentos oportunizados pela experiência de André nesta fase espiritual e compartilhados através da elaboração do livro, psicografado por Chico Xavier, que é, mesmo que de maneira sutil, belamente homenageado nos filme em dois momentos.

Recorde em bilheteria de estréia desde o cinema de retomada, Nosso Lar atrai, seja pela curiosidade em ver o show de efeitos visuais, inéditos na filmografia brasileira, seja pela trilha, seja por uma curiosidade relativa à “vida após a morte” pela ótica da doutrina, seja por uma distração familiar, seja pela alegria de ver difundido por um meio de comunicação de massa tão abrangente e encantador que é o cinema, uma realidade espiritual tão forte e possível em nossas vidas. Para quem segue a doutrina, uma realização, ao ver tantas pessoas tocadas ao término de uma sessão. Para que não segue, o exercício do conhecer. A beleza do silêncio exterior em contraponto ao nascimento de um diálogo profundo interno. Ao findar o filme, virar-se e perceber a expressão das pessoas é um espetáculo a parte. E se essas ideias que tocaram individualmente cada espectador ganharem vida e se concretizarem em conversas entre amigos, resenhas de internet, twitters, macro ou micro universos que sejam, é definitivamente a materialização de uma vibração positiva. Por isso  se de repente as pessoas começarem a ler mais livros, freqüentarem centros, pesquisarem em suas casas sobre o tema, a vitória maior é não é apenas do espiritismo, mas do ser humano e sua elevação, que é fundamentalmente seu maior objetivo.

Trailer:

10 comentários:

  1. seus textos são de uma leveza ímpar. mesmo extensos, não cansam pela leitura. muito pelo contrário. fico sempre com vontade de ler mais do que sai dessa massa inteligente que você tem dentro do crânio. tenho orgulho de você! te amo.

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  2. .'.

    Ilinda,

    Putz! Como você manda bem, amiga do coração! Hoje passei para uma visita rápida, para deixar um beijo e dizer que seu blog tá show. Depois volto com tempo para coments, devaneios e outras reflexões.

    Te amo!

    '.'

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  3. suas palavras são profundas de infinita beleza, nos leva a uma grande reflexão...adoreiiii q Deus te abencõe, bjossss!!!!

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  5. :: oi, rapariga! rsrsrs! o que falar da forma como você escreve¿ me leva até a questionar minhas impressões sobre o filme. mas, ainda assim, vejo-me inclinado a comentar a respeito :: acredito que tenho de reler o livro. não confio que eu tenha visualizado nosso lar sob esta ótica. independente dos conceitos e lições de aprendizado tratados, mesmo porque compartilho da doutrina, não deixei de vê-lo – o filme – como um filme. de antemão, dentro do meu pouco ou quase-nenhum conhecimento a respeito de cinema, dirigiria de forma completamente diferente – já que há liberdade de reprodução sem o necessário compromisso com a fidelidade à obra. questiono se foi a melhor forma, talvez impactante demais, de levar conhecimento da doutrina para os leigos no assunto. confesso que fiquei preocupado com isso. em tempo de descrença e falta de espiritualidade, desconheço se foi o melhor caminho de retratar o “céu”, já que o espiritismo apresenta não como um espaço físico, mas sim com um estado de espírito, literalmente. é um vislumbre muito grande pra quem ainda nem, sequer, entrou em contato com a religião à qual nos referimos. se, para alguns, é impraticável conceber a idéia de uma vida “além-túmulo”, imagine com “aeorobus”, notebooks, materialização de vestimentas, concertos à beira do lago, governo, ministérios, muralha de proteção, etc. para os que lêem a doutrina, é um fato, é provável, enfim. mas para os que não a conhecem, soa um tanto o quanto mágico demais. poderíamos orgulhosamente dizer “mas nós acreditamos e ponto”, só que o cinema não foi feito somente para nós e ponto! é um veículo muito importante de conhecimento e não pode ser reduzido a esse pensamento. em minha sessão, ouvi gracejos em determinados momentos, mas com o tempo, apesar da zanga que me deu, compreendi :: temos, também, que levar em conta que ambiente espiritual somente tem a ver com nosso padrão vibratório. sendo assim, não podemos tomar a idéia de “céu” e “inferno” passadas por andré luis como sendo universais e imutáveis. o umbral também não deixa de ser um espaço “virtual” criado por nossa consciência e dos que o coabitam. o que quero dizer é que podemos levar em consideração uma experiência muito particular do protagonista, sua realidade consciente, a época do desencarne, suas limitações, suas experiências pessoais. isso significa que, para cada um de nós, existe uma experiência diferente. ou será que o nosso lar seria visto da mesma forma por um ateu, um muçulmano, um indiano e um cientista¿ ou por um rico e arrogante e um pobre analfabeto que não tenha recursos¿ seria possível para alguém que nunca assistiu uma orquestra (dessas criaturas sem recursos nenhum ou aquelas que pouco tenham vivido encarnado) ver uma delas tocando num lago¿ achei que houve uma grande preocupação em gastar a (enorme) verba destinada, no intuito de atrair olhares (não necessariamente bilheteria, por não se tratar de um tema ecumênico). minha proposta seria algo mais delicado – já que o enfoque é na consciência, comportamento, mudança, caráter, reconstrução – menos voltado para o apelo visual. com metade da verba poder-se-ia fazer algo tão tocante o quanto e menos impressionante (num sentido pouco amistoso) :: não discordo em nada quanto à essência. creio. é minha fé! estarmos fadados a encarar o “purgatório”, aceitarmos os erros, expiar por eles, arrependermo-nos, sermos resgatados, tratados, conscientizados, preparados para evoluir, reencarnar, isso tudo é um fato. minha ótica é apenas diferenciada, sem, de longe, ferir os princípios da doutrina :: luri, se realmente somos o que pensamos, garanto que após meu desencarne, pouco será gasto pelo “cosmo” pra que eu me sinta – depois de penar uns aninhos no umbral – no nosso lar! rsrsrs :: beijos!!!

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  7. Lari amado,

    Acredito que, para quem escreve e se expõe em um meio como este, a maior recompensa são textos como o seu. Provocar no outro uma análise sobre o fato em si e sobre o que foi dito do fato é uma conquista particular muito festejada. Suas considerações somam-se a minha a medida em que concordo inteiramente que cada um tem uma lente e uma visão unica de como vai refletir esses ensinamentos...achei sua linha de direção, rs, muito boa e facilmente assitiria seu filme com a certeza de sair maravilhada, mas isso é, como vc mesmo disse, um olhar meio a tantos outros que poderiam ser lançados, assim como em outros filmes menos específicos. Isso me leva a pensar inclusive que minhas sensações dentro da sala de projeção foram diferentes da sua o que fortalece a questão de que tudo é muito relativo...este fato pode ter contribuido significativamente para a percepção individual de cada um, daí a imprevisibilidade e diversidade de impressões sobre os fenômenos. Por isso, assim como vc, seu texto tb me faz repensar muitas coisas...rs

    Venha sempre, querido amigo, trazer seus devaneios para esse espaço que é nosso, e que só pulsa quando tem a participação de pessoas dispostas a se posicionar e provocar outras reflexões, assim como vc o fez.

    beijos querido!

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  8. Não li o livro (ainda) mas amei o filme. Como vc falou, me fez refletir... Sobre o que realmente importa cultivarmos em nosso coração, em nosso comportamento. Parabéns pelo blog, está SHOW!!! Beijos minha MÃ!!!!

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  9. Nai linda da minha vida...vc é responsavel por isto.

    obrigada por vir...
    amo mã!

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  10. Linda menina!
    Mais um belo texto.Meus parabéns!
    Já nos foi dito pelas entidades que este milênio é da comunicação,de toda e qualquer forma. O cinema torna-se um instrumento forte para este objetivo.
    Ao nosso redor, acotovelam-se espíritos em grande quantidade.
    " Os espíritos estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Há os que estão sem cessar ao vosso lado, observando-vos e atuando sobre vós, sem que o saibais...". Texto do livro dos Espíritos em resposta a pergunta 87.
    Com isso, podemos crer que estes estão se comunicando pela literatura, teatro. telenovela, cinema e outros mais; trazendo-nos mensagens de amor, solidariedade, misericórdia... enfim, para que estejamos cientes do nosso aprendizado em quanto estamos nesta caminhada.

    OBS: Quando ao aspecto das edificações, o modernismo do " nosso lar", este merece estudos mais apurados, tenha certeza que tudo que descobrimos aqui, já o existe na espiritualidade em mais avançados do que se possa imaginar.

    Fraternal abra e beijos. Abi

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