Prisões da alma |
Revolutionary Road é fatal ao atirar aos olhos do espectador suas fraquezas e falsos ideais. Os verdadeiros sonhos são aqueles criados quando nada temos. No entanto para onde eles vão após nos lançarmos homeopaticamente em um cotidiano enfadonho, milimetricamente igual mesmo nas surpresas e diferenças que nos arrastam tal qual areias movediças da rotina e prazeres coletivos?
Ter uma casa num bairro adequado, ter uma carreira, ter dinheiro, ter uma família, ter amigos perfeitos, ter uma vida emoldurada e estável. Qual o preço dessa escolha de sonho americano? Kate Winslet e Leonardo DiCaprio retornam juntos, após onze anos, agora sob os olhares e sentidos de Sam Mendes, figurando um casal aparentemente perfeito dos anos 50 (porém, essencialmente atemporais), que ao conquistarem tudo que desejaram deixam de ser quem eram: o frescor da juventude percebido não apenas fisicamente, mas também pelos ideais e sonhos, além da forte unicidade e sentimento de “ser especial e único”, típicos desta fase comum a todos nós, canção que bem entoada no início da história, vai ao longo de trama, desafinando, tornando-se uma ópera triste composta de atos longos e indesejados.
O grande poder de Revolutionary Road é sua fatídica ironia. O desejo inspirador de desconstruir e reinventar se mostra ineficaz nesta tragédia urbana cotidiana de Sam Mendes. Se
Com saltos grandiosos de interpretação, com Leo (em um de seus melhores papéis dramáticos) como um jovem ambicioso que foi engolido por uma rotina adulta, tornando-se um marido perdido em suas próprias incertezas e Kate (ah...insisto em dizer que ela é fabulosa) como a desencantada dona de casa que ansiava ser atriz e acabou tornando-se figurante de sua própria vida (impossível esquecer a cena belíssima do bar, onde April converte todo seu desespero em sentir-se viva em uma dança simples, porém pura, como os seus primeiros sonhos). A grande surpresa fica a cargo do Michael Shannon (até então inédito para mim) como o vizinho John Givings, tido como louco, no entanto, ao contrario de todos os outros, o único capaz de enxergar o casal Wheeler como eles realmente são: mergulhados em seus medos e desesperanças.
No filme os sentimentos são expressos como conseqüência das armadilhas de um casamento e das responsabilidades de uma vida adulta, no entanto é algo naturalmente possível, mesmo que triste, repito, a qualquer um, tornar-se justamente o que nunca quis ser. Para enraizar-se em um jardim infrutífero basta podar mesmo que imperceptivelmente todos os dias uma nova chance, e sem querer o fazemos, pequenas procrastinações que futuramente deixarão nossas árvores dos sonhos sem os galhos que representam as diferentes direções que podemos tomar na vida, oportunidades que se anuladas não retornarão. Afinal são apenas dois caminhos e para os que não se movem fica o legado medonho de deixar os sonhos de lado e viver um macabro conto de fadas da vida real.
Trailer legendado:
Baiana... me deixou com muita vontade de assistir...vou procurar.... bjssss
ResponderExcluirApoio Belzinha...filme muito bom.
ResponderExcluirbjs